terça-feira, 20 de março de 2012

A Propósito de Pais e Filhos

Postado por Renata Palombo
Escrito por Luiz Schettini Filho

No mês de Fevereiro deste ano fomos surpreendidos por mais uma terrível tragédia familiar, conforme anunciado em vários meios de comunicação, onde um filho matou seus pais, o Bispo Robinson Cavalcanti e sua Esposa, a facadas (clique aqui para ler a notícia). 

Em todas as matérias vemos o destaque dado pela imprensa à informação de que o assassino é filho adotivo do casal.

Por que nunca informam que o assassino é filho biológico quando o crime é protagonizado por um filho bio?! Assassino é assassino. Se é filho biológico ou adotivo pouco importa ao fato dele ter cometido assassinato. Se assim não fosse, Suzana Richtofen não teria assassinado seus pais BIOLÓGICOS, entre inúmeros outros casos semelhantes.
 
Destacar que o assassino é filho adotivo termina por sugerir que tal fato tem relação com o crime ocorrido e alimenta uma outra tragédia: a do preconceito.
 
Recebi por e-mail uma "carta" escrita pelo psicólogo Luiz Schettini Filho que trabalha há 40 anos com filhos por adoção. Achei por bem publicá-la em meu blog conforme segue:

 
Seres vivos se agridem. Os humanos não fogem à regra. O que é inaceitável é o peso injusto que se atribui quando essas agressões penalizam pessoas pelo seu grau de parentesco; como se agredir alguém com quem não se comunga qualquer parentalidade fosse um ato de menor importância.

Estas considerações vêm a propósito de notícia veiculada pela mídia, dando conta de que um filho, em uma ação execrável, agride pai e mãe até a morte e, em seguida, tenta a própria morte. Todos reprovamos e ficamos constrangidos com tal ação destruidora, ainda mais quando oriunda de uma relação de parentesco de tanta profundidade quanto a que liga pais e filho.

O que causa estranheza e, diria, estarrecimento, é se especificar e acentuar que o autor da ação reprovável é filho adotivo. Por que insinuar que o crime cometido o foi por um filho adotivo? Porventura tendo alguém se tornado filho por adoção trará em si o germe do distúrbio de comportamento que possa gerar ação tão hedionda? Nunca se viu na mídia qualquer referência com tal ênfase indicando: Filho biológico mata pai e mãe. Por que agregar à adoção como forma legítima jurídica e afetiva de parentalidade, a informação insidiosa de que haveria uma íntima relação entre adoção e distúrbio de comportamento, o que, psicologicamente não é verdadeiro?

Estabelecer tal relação é tentar instalar interrogações, desestímulo  e até medo naqueles que vivem em paz com seus filhos, como também àqueles que buscam dar uma família aos que a sociedade lhes negou tal direito.

Não é a primeira vez que tomamos conhecimento dessa posição profundamente desumana da mídia, jogando sobre os filhos por adoção responsabilidade pelo simples fato de chegarem às suas famílias pelo instituto da adoção. E mais. É obvio que todos os filhos, sem exceção, são biológicos, ao mesmo tempo em que só poderão vivenciar a real filiação se com eles forem construídos vínculos afetivos com os que os incorporaram como filhos por adoção.

Em nome de um sensacionalismo informativo, há os que talvez sem o perceber são cruéis e pedagogicamente incorretos, martirizando os que estão curando as dores da rejeição ou preenchendo as lacunas da infertilidade. Presta-se um desserviço à humanidade quando se tenta juntar dois elementos que não se podem unir: adoção e deformação do comportamento.

Alguém já observou que dos seres vivos que conhecemos somente os humanos têm a capacidade de serem desumanos. E, lamentavelmente, alguns o são.

Lidando há quarenta e um anos, como psicólogo, com pais e filhos adotivos, compulsando a literatura dos países que pesquisam sobre o tema, nunca encontrei qualquer fonte científica que afirmasse que ações agressivas entre seres humanos fosse uma marca naqueles que se tornaram filhos por adoção.

Chamo aqui à responsabilidade aqueles que permitem a publicação de inverdades que resultam em crime social com prejuízos de extensão incomensurável para crianças que poderão perder, pela segunda vez, a oportunidade de convivência familiar.

Luiz Schettini Filho
Psicólogo
Pai adotivo

3 comentários:

Juliana disse...

Estigmatizar eh uma forma das pessoas esconderem seus proprios defeitos, imaturidades e preconceitos. O importante eh tapar os ouvidos e seguir enfrente sendo Feliz.... ou aproveitar essas ignorancias para ensinar.

Amanda Costa Silva disse...

O amor é a base de tudo e quando ele esfria, muda ou seca, independente do grau de parentesco ou relacionamento, faz com que coisas assim aconteçam. Se são filhos biológicos ou adotivos não importa. Eles são humanos e tem suas limitações genéticas e adquiridas desde o éden. Chegamos no tempo do fim e que Deus tenha misericórdia de nós pais e filhos!

Anônimo disse...

Parabéns para o Dr. Luiz Schettini e para vc Renata Palombo, por tão bela publicação!!! Deus os abençoe!

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