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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Adoção Tardia: Por que não?

Postado e Escrito por Renata Palombo

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Fonte da Imagem:http://www.paisefilhos.pt/

A adoção, por si só, já é um tema muito complexo de ser abordado, em se tratando de adoção tardia a complexidade aumenta ainda mais. Vemos que a adoção tardia é permeada por muitos preconceitos e infelizmente no Brasil, os poucos estudos científicos que existem nessa área descrevem casos clínicos e psiquiátricos que associam a adoção a problemas e fracassos.  

No entanto, nos últimos anos o tema tem sido cada vez mais divulgado e discutido, principalmente pelo aumento de Grupos de Estudo e Apoio a Adoção. Isso tem refletido socialmente de forma positiva, colaborando para desmistificar os conceitos errados sobre adoção. Fato que esse avanço acontece “a passos de formiga”, mas não deixa de ser um avanço que precisa ser valorizado.

Hoje, no Brasil, a adoção é vista como solução para infertilidade, o q faz com que a maioria dos candidatos a pais adotivos desejem adotar um bebê. Em geral somente as crianças até três anos conseguem colocação em famílias substitutas. As crianças mais velhas são adotadas por estrangeiros ou permanecem nas instituições até completarem a maioridade.

É bem verdade que a LENTIDÃO da justiça contribui MUITO para que muitas crianças com perfil para adoção permaneçam institucionalizadas e cresçam nos abrigos. Porém este é assunto para outro post.

As justificativas dos adotantes para rejeitarem crianças mais velhas relacionam-se fundamentalmente com o medo das dificuldades na educação (como se ter filhos biológicos ou adotar bebês garantisse controle e sucesso na educação destes).

Muitos acreditam que crianças adotadas tardiamente viriam com padrões sociais estabelecidos e não seriam capazes de se adaptar a nova realidade familiar e atender aos anseios dos pais (como se filhos biológicos ou adotados bebês atendesse a todos os anseios parentais).

Os preconceitos mais comuns quanto a adoção tardia são:

a) medo de adotar crianças mais velhas pela dificuldade da educação

b) receio que a criança venha com maus hábitos

c) a criança saberá de sua origem, sendo melhor adotar bebê e esconder dela que é adotada simulando por toda a vida uma família biológica.

Muitas famílias não bancam a adoção tardia porque não sabem diferenciar entre a aceitação/inserção completa da criança na família, e o desejo/tentativa de apagar suas origens e história de vida. 

É necessário que pais adotivos tenham muito claro que ainda que adotem recém-nascidos jamais poderão apagar a origem e história de vida pregressa à eles. Viver na mentira não é o mais indicado para construir a base de uma família. Saber que é adotado não é o grande vilão das crianças que apresentam problemas emocionais ao longo da vida... o grande vilão é sem duvida o significado que os pais dão para esta adoção. Podemos citar aqui alguns significados ruins que se dá para a filiação adotiva como por exemplo, usar a adoção como prêmio de consolação para infertilidade e depositar na crianças suas frustrações por nunca ter conseguido gerar biologicamente, valorizar mais o “sangue que corre na veia” do que a convivência e a aceitação incondicional, usar a adoção da criança para resolver um problema conjugal, usar a adoção como forma de responder a uma cobrança social de que é necessário ter filhos, desejo de fazer caridade... entre tantos outros significados disfuncionais que poderíamos citar aqui.

A adoção desta maneira termina por não ser um processo nada fácil. Seria necessário uma mudança na sociedade e um preparo das pessoas para proporcionar de fato o encontro de pais para todas as crianças.

Hoje, o fato é que uma imensa quantidade de crianças acima de três anos continuam sem família enquanto uma imensa quantidade de candidatos a adoção pleiteiam crianças mais novas.

As crianças maiores ficam à espera de pais, e pais a espera de bebês. 

Adoção Tardia: Por que não?

Fonte consultada: Ebrahim, S. G. (2001). Adoção Tardia: Altruísmo, Maturidade e Estabilidade Emocional. Psicol. Relfex. Crit. vol. 14 nº1 Porto Alegre

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Como Fui Escolhida - Uma História de Adoção Tardia

Escrito por Romilda Alessandra P. Trindade
Postado por Renata Palombo
                                  
Fonte: Arquivo Pessoal
 
Hoje quem conta sua história pra gente é a Rô... Uma pessoa muito, muito especial para mim por "n" motivos, dentre eles o fato de que sua presença na minha família e na minha vida legitima a certeza de que eu fiz a melhor escolha, a escolha do amor... Me emocionei ao ler seu relato!!! Obrigada Rô, por compartilhar sua história com o "Descobrindo a Maternagem". Tenho certeza que nossos leitores vão se emocionar também e gostar muito de conhecer um pouco de você...

 
"Em minha história de vida existiram muitas perdas e começaram precocemente, porém contribuíram para minha formação e fortalecimento.
 
Nasci na cidade de Cachoeirinha/RS, aos meus dois anos de vida meu pai biológico faleceu. Tenho poucas lembranças dele, mas uma vívida em minha mente é de cavalgarmos, ele me segurava de forma muito afetiva e protetora.
 
 
Já minha mãe biológica faleceu na minha presença, quando eu tinha apenas sete anos de idade. A partir deste dia minha vida mudou, pois minha irmã mais velha e eu fomos morar em outra cidade com um casal de conhecidos.
 
 
Porém, mesmo antes de eu nascer, Deus já tinha tudo planejado... recém-casada, "minha irmã do coração”, foi viver em uma cidade próxima àquela na qual eu estava. Seu esposo acabou conhecendo minha história e dividiu com ela, que por sua vez ligou para São Paulo e contou à mãe. Minha, então futura, mãe estava triste, pois já que sua filha primogênita acabara de se casar e mudara para o Rio Grade do Sul. Ouviu a história atentamente e, segundo ela, bastante comovida fez apenas uma pergunta: “Ela não tem mais ninguém? Se não tiver e ela quiser vou buscá-la”.
 
Minha futura irmã então me contou de São Paulo e perguntou se gostaria de “ter uma nova família”. Confesso que fiquei dividida, ora era uma oportunidade incrível, mas eu não queria ficar longe de minha irmã biológica. Conversei com ela que me convenceu das vantagens de ter uma nova família, e foi assim que eu aceitei... mesmo com medo.
 
 
Logo, minha nova mãe foi me conhecer e me buscar. Podemos dizer que foi “amor à primeira vista”, aquele olhar meigo e terno e o sorriso dócil me cativaram.
 
 
Chegando a São Paulo conheci meu novo pai e meu novo irmão, os quais estavam ansiosamente me aguardando. Eu estava com medo e tímida, mas todos foram muito compreensivos. Eu tinha apenas oito anos quando “nasci” nesta nova família.

Fomos ao juizado; entrevista com assistente social, entrevista com psicóloga, entrevista com juiz... todos preocupados com meu bem estar e se realmente era isto que eu queria. Naturalmente, eu não tinha dúvidas que esta nova família me amava.

Um ano depois de meu “nascimento”, minha “certidão” estava pronta. Era oficial!

Não vou dizer que foi fácil, pois toda a adaptação leva tempo e é complicada. Adaptar é harmonizar, acomodar, adequar sentimentos, a vida.

Não consigo imaginar como seria minha vida se meus pais não tivessem me adotado, se eles não tivessem decidido investir nesta relação, por medo e insegurança, como muitos fazem. “Adotar? Pode dar problema!” “Não conheço a família.” “E a genética?”

Meus pais não pensaram nisso. Apenas agiram com o coração, com o amor! Como minha mãe me falava: era seu desejo ter três filhos, desde solteira. Me contava que, após ter meus irmãos, sonhava com uma terceira criança, mas não conseguia ver o rosto. Depois que “eu nasci” na família, ela teve certeza que eu era a criança dos seus sonhos.

Sempre fui muito companheira de meus pais, minha mãe era minha confidente, amiga, conselheira. Meu pai ciumento, protetor e dedicado. Meus grandes exemplos.

Hoje já não tenho meus "pais do coração comigo", mas sempre me senti muito especial, amada por eles me deram tudo o que sempre precisei. Estudo, amor, um lar... o mais precioso que eu podia receber: a estrutura de um lar onde eu era amada e onde eu amava! Nunca me vi como uma filha adotiva, mas como uma filha biológica! Ora fui tão amada e desejada, como poderia ser diferente? Meus pais poderiam não ter me escolhido, mas o fizeram; e mesmo antes de me conhecer. Sou muito privilegiada!

Foi nesse lar que eu aprendi mais e desenvolvi grande relação com o Criador do Universo. Foi nesse lar onde eu recebi a base de uma família para hoje ser mulher sábia em meu lar. Foi nesse lar que eu recebi a chance de me tornar quem sou hoje. Já que eu poderia ser mais uma criança sem ‘eira nem beira’ como tantas outras por aí.
 
 
Deus me deu uma chance, meus amados pais aceitaram a chance de serem instrumentos nas mãos d´Aquele que já tinha o propósito de minha vida. Hoje eu sou extremamente feliz em meu lar, sou psicólogo graças a formação que meus amados pais me proporcionaram e sou esposa graças aos incansáveis esforços deles em me ensinarem tantos dos valores que carrego hoje. Sou feliz porque tenho um Pai no céu que não me desampara e que jamais me desamparou! Almejo, com toda minha alma, reencontrar meus pais num futuro não tão distante..."


Romilda Alessandra Pedromo Trindade, 32 anos, casada. Psicóloga. E-mail:romipedromo@gmail.com

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Meu primeiro dia das Mães no Bebe.com

Escrito e Postado pro Renata Palombo

Esta semana a Bruna Stuppiello do site Bebê.com da editora Abril me convidou para escrever pra eles contando como foi o meu primeiro dia das mães como mãe e não somente como filha. 

Adorei o convite e aceitei participar. 

Hoje a matéria foi publicada no site e me deixou muito feliz ver a sensibilidade da matéria que abordou as várias formas de maternagem e os caminhos que cada MÃE constrói junto com seus filhos. Existem inúmeros caminhos para se tornar e ser MÃE e eu adorei ler cada uma das histórias publicadas lá. 

Abaixo segue o meu relato publicado, mas eu sugiro que você acesse o link da matéria : "O meu primeiro dia das Mães" e se emocione também com os relatos de outras Mães.

No próximo domingo não será o meu primeiro dia das mães como mãe, mas foi uma delicia relembrar... Obrigada Bruna!!!

DIA DA MÃE POR ADOÇÃO TARDIA

O meu primeiro Dia das Mães foi muito especial. Sair da condição de filha para se tornar mãe é um processo um tanto difícil, mas de muito crescimento. Uma coisa que me marcou muito foi poder participar da festa de Dia das Mães da escola onde  meu filho estudava. Parece estranho dizer isto porque bebês não participam ativamente de eventos sociais. Mas o meu "bebê" que "nasceu" na minha vida já com 6 anos de idade me deu o privilégio de vivenciar um momento especial como este logo no meu primeiro Dia das Mães. Sim! Sou mãe por adoção! Adoção tardia.

Confesso que na época, ao aproximar-se a data do Dia das Mães, fiquei bastante apreensiva. É um momento onde se explora muito imagens de mulheres grávidas e bebês e nas homenagens escolares não é diferente: usam-se muitas fotos e vídeos de barrigas e recém-nascidos. 

Como aquele seria o nosso primeiro Dia das Mães juntos eu não sabia muito como lidar com estes apelos e não sabia também como meu filho lidaria. Temi que a escola começasse a pedir fotos das mães grávidas e dos alunos bebês, temi que tudo isso pudesse constranger ou confundir meu filho, que ainda estava e fase de adaptação. Eu não sei ao certo como ele acomodou estas circunstâncias em sua cabecinha, mas sei que a professora dele na época foi de um sensibilidade ímpar para lidar com a situação e para tratar as diferenças em sala de forma tão sábia.

A homenagem que ela preparou com os alunos foi a construção de uma linda caixa de presente com uma foto atual de mãe e filho, e no dia da apresentação os alunos da classe do meu filho cantaram a música "Foi Deus" do Edson e Hudson. Ainda hoje, anos depois, me emociono ao lembrar o trecho da música que dizia "foi Deus que me entregou de presente você, eu que sonhava viver um grande amor assim. Valeu ter esperado o tempo passar para de uma vez meu amor entregar e não sentir solidão nunca mais".

Foi muito gratificante ver a escola tratar meu filho com igualdade levando em consideração suas diferenças. A letra da música retratava uma dupla homenagem porque meu filho tinha compreensão que ele era um presente para mim, assim como eu era para ele. Meu filho tinha compreensão que assim como valeu para mim esperar por ele, também tinha valido para ele esperar por mim.

A homenagem não precisou de barrigas e bebês para expressar de forma tão singela e doce o que toda mãe (biológica ou não) certamente pensa sobre seu filho: um presente de Deus. E o que todo filho (biológico ou não) pensa sobre sua mãe: Um presente de Deus.

Fonte: Arquivo Pessoal

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Carta à Minha Filha

Escrito e Postado por Renata Palombo
 
Estamos em época de Natal.

A palavra "natal" significa nascimento e é usada para o dia 25 de Dezembro porque é a data em que grande parte do mundo cristão comemora o dia do nascimento de Jesus.

Supomos que minha filha Natalia se chama assim, justamente por ter nascido nesta época. 

A palavra Natalia vem do Latim e deriva de "natus", mesma palavra da qual deriva natal e igualmente significa nascimento (não era muito dificil supor que Natalia também significava "nascimento"). Ontem ela comemorou a data de seu nascimento (mais um ano de vida) e amanhã comemoraremos a data do nascimento de Jesus.

Quando o Diego fez aniversário, eu publiquei aqui uma carta ao meu filho. E hoje eu gostaria de fazer o mesmo pelo aniversário da minha filha e deixar registrado aqui uma carta que escrevi a ela.

Naty,

Independente de ter nascido na época do Natal o significado do seu nome faz jus ao que você realmente é!

Sei que sua vida não foi fácil e ainda não é... Sei que hoje sua vida não é fácil porque como todas as pessoas do mundo você tem suas preocupações, tristezas e dificuldades diárias, mas sei que a bagagem emocional que você carrega consigo torna tudo ainda mais pesado.

Por isso acho que faz jus ao seu nome.!!! Você tem o dom de "nascer" todos os dias e se dar uma nova chance! Você "nasce" diariamente para superar o que passou e "nasce" para tentar fazer diferente! Você é a prova viva de que as pessoas podem aprender todos os dias e que nunca é tarde para fazer diferente. Quebrar ciclos é necessário para todos nós, mas poucos conseguem de fato fazê-lo. Acho que sua capacidade de "nascer" a torna mais forte para quebrar ciclos, embora não acho que lhe seja mais fácil.

Coincidências da vida ou não, me chamo Renata, palavra que também vem do latim e que também deriva de "natus", no caso "renatus" que significa RENASCER.

Sem dúvida sua chegada na minha vida me fez "renascer" e ainda faz todos os dias, pois  renasço diariamente. Precisei deixar morrer todos os meus sonhos e projetos para a maternidade e renascer em sonhos que nunca imaginei que poderia amar tanto.

Assim como pra você, pra mim também não tem sido fácil, porque aprender a ser mãe e descobrir a maternagem é tão ou até mais difícil do que aprender a ser filha. Mas penso que o mais importante em tudo isso é que estamos tentando, "nascendo" e "renascendo" todos os dias numa nova busca de nos compreendermos, nos amarmos e estamos sempre juntas.

Sabemos de histórias de pessoas que por muito menos desistiram.

Ontem foi seu aniversário, e é fato que vivemos muitas dificuldades juntas e separadas. Mas é fato também que neste tempo que nos adotou como pais e que foi adotada por nós como filha também já vivemos coisas maravilhosas e dignas de gratidão infinita a Deus.

Pouco tempo se passou desde que “nasceu” em nossas vidas, mas com tanta intensidade que parece que sempre esteve aqui. Somos muito gratos a Deus por termos participado de suas superações escolares, por termos lhe dado as mãos quando você tentava dar os primeiros passos no “novo mundo”, foi difícil ver você cair enquanto tentava “caminhar”, mas foi fantástico vê-la se levantar quantas vezes foram necessárias e seguir em frente. Vê-la experimentar novos sabores, novas amizades, novos amores, novas fragrâncias, novas dores, novas viagens, novas culturas, novas palavras, novas roupas, novos anos... Tudo isso é o que faz da maternagem a experiência mais fantástica que um ser humano poderia viver.

De tudo o que vivemos, um momento muito especial, foi presenciar a entrega de sua vida a Cristo, não porque quiséssemos impor-lhe nossa religião, mas por vermos que você tem se identificado com nosso mundo, nossos costumes e práticas, tornando irrelevante a falta do "mesmo sangue" correndo em nossas veias.

Estar com você é empolgante: pelo amor que sinto e por tudo o que aprendo. Ser sua mãe é entender que a adoção é muito, muito maior do que qualquer tentativa de explicá-la. A adoção sem dúvida é uma escolha, uma decisão, mas transcende esse caracter tão racional, porque quando se adota de fato e se descobre amando se compreende que não era só uma questão de escolher, mas era também uma questão de necessitar. Hoje eu não apenas escolho ser sua mãe, hoje eu necessito ser sua mãe.

Natalia, você não nasceu de mim, mas certamente nasceu para mim!

Eu, Renata, não renasci para você (resnasci para o mundo), mas certamente renasci por meio de você!

Parabéns por mais um ano de vida que completou! Parabéns pela Maioridade! Parabéns por ser quem você é!

Te amo! Deus te abençoe!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O "Mito do Igual"

Escrito e Postado por Renata Palombo


O que é o "mito do igual"? É quando as pessoas acreditam no mito de que todo mundo é igual e como consequência desta crença acabam não sabendo lidar com aquilo que é "diferente".

A adoção é vista como uma forma muito diferente de maternagem e filiação e pra quem convive com isso sabe quantas vezes somos obrigados a ouvir comentários preconceituosos e de diferenciação. Como se fôssemos menos ou mais, como se fôssemos algo estranho, como se fôssemos um estilo de vida super alternativo.

A verdade é que as pessoas (e eu me incluo nisso) falam coisas irreais e sem sentido porque não sabem lidar com a diferença. O que as pessoas (e me incluo aqui de novo) não se dão conta é que o "igual" é apenas um MITO. Quando, por exemplo, falamos em maternagem e filiação eu queria saber o que é igual? Vocês conhecem alguma história de maternagem igual a outra? Uma mãe igual a outra? Um filho igual ao outro? Estou usando aqui a palavra "Igual" como sinônimo de "idêntico, que não varia".

Pior ainda é que baseamos a crença do "igual", no "mito do ideal". Qual é o ideal de mãe? Criamos um ideal e aí cremos piamente que este ideal é o igual e quem não vive este ideal é diferente. Por que cremos nisso?

Eu conheço muitas mães e cada uma delas tem uma história diferente. Eu conheço mães casadas que planejaram seus filhos, mas conheço mães casadas que não planejaram... assim como também conheço mães solteiras que planejaram e solteiras que não planejaram. Eu conheço mães que vivem com um homem que não é o pai dos filhos dela e conheço mulheres que assumiram as maternagem dos filhos do marido. Conheço mães-avós, mães-tias, mães-irmãs. Conheço mães que tentaram abortar e mães que engravidaram de uma aventura. Conheço mães que esperaram 15 anos para ter um filho e conheço mães que nem esperaram. Mães que enganaram o marido para conseguir ter um filho. Mães que engravidaram de marido vasectomizado, mães que tiveram que fazer teste de D.N.A. para comprovar a paternidade, mães que não fizeram pré natal, que ficaram doentes durante a gravidez, mães que fertilizaram o filho in vitro e mães que fertilizaram o filho no coração. Mães que adotaram bebês, que adotaram crianças grandes, que adotaram grupo de irmãos e que adotaram de "cor de pele" diferente da sua. Conheço quem adotou para "tampar um buraco" na vida e quem adotou apenas porque queria ser mãe. Conheço filhos que nasceram de parto normal, de parto cesárea e de fórceps. Conheço mãe de gêmeos e acreditem se quiser conheço até uma mãe de trigêmeos. Conheço mães homossexuais. Eu conheço mães que sentem medo, culpa, raiva, dúvida, amor, alegria, esperança... e conheço as que sente tudo isso misturado e mais um pouco. Conheço mães que queriam menina e tiveram menino e vice-verso. Conheço mães de filhos deficientes fisicos, intelectuais e até deficientes de espírito. Conheço mães religiosas, "porra loucas" e até tradicionais. Mães que trabalham fora, que trabalham dentro e que trabalham em todos os lugares. Conheço mães que tem facebook, que nunca ligaram um computador, que fazem terapia, que dirigem, que andam a pé, que fumam, que bebem, que usam drogas, que não comem carne e nem açúcar e que fazem acadêmia. Conheço mães que querem que o filho seja médico, outra que quer que seja pastor, outra que quer que seja futebolistas e outras e outras e outras...

Imagino que você que me lê também conhece pelo menos uma de cada uma destas mães (talvez uma ou outra não), então, por favor, me diga onde está o "igual", o "idêntico"? Porque ainda assim achamos que todo mundo é igual a mãe ideal? Qual destas citadas aí em cima é a ideal? Porque as pessoas se espantam tanto com quem é mãe por adoção como se hovesse apenas uma ou duas variações de mães? Só agora, rapidamente, consegui me lembrar e citar cerca de 50 variações para mãe, fora as que eu nem me lembrei.

Será que quando eu aponto o diferente significa que todo o resto é igual a mim?

Acho que antes de ficarmos espantados ou curiosos com algum tipo de maternidade diferente da "ideal" deveríamos lembrar que o ideal não existe e muito menos o igual.
O "igual" certamente é um mito!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Carta ao Meu Filho

Postado e Escrito por Renata Palombo
Filho,

Hoje é seu aniversário! Você está fazendo 9 anos. Nasceu para o mundo há exatamente 9 anos, mas nasceu na minha vida há  exatamente 2 anos e 4 meses.

Parece pouco tempo se pensarmos que são só 2 anos, mas se pensarmos na intensidade de tudo o que já vivemos juntos parece muito!

As vezes parece que foi ontem que tudo aconteceu, e as vezes parece que faz tanto tempo que mal consigo me lembrar como era a nossa vida sem você.

Lembra da primeira vez que nos vimos? Nem sonhavamos que seríamos uma família, mas naquele dia Deus já sabia que você era nosso e que nós éramos seus. Naquele dia Deus viu que nossos corações começavam a se ligar um ao outro.

Lembra da 1ª vez que fomos ao  supermercado? Das esperas pelos finais de semana para nos encontrarmos, das várias vezes que te deixamos no abrigo com o coração doendo de saudades e um nó na garganta, das idas ao dentista, da angustia pela espera da decisão da juíza?

E o dia que o Fórum nos ligou dizendo que poderíamos buscar nosso filho? Você estava lá eufórico esperando por nós, mas na verdade não estava entendendo nada do que estava acontecendo.

Lembra das primeiras vezes que falou pai e mãe? As primeiras birras e desobediencias? E os vários xixis na cama? A primeira visita da "fada do dente", a primeira festa de aniversário, o primeiro dia das mães?

Lembra quando a gente estava aprendendo a ser pais e a você a ser filho? Época dificil , hein? Pensamos em desistir algumas vezes. Qualquer coisa era motivo para você dizer que nosso coração tinha desgrudado e nós sempre dizíamos que  nossos corações não desgrudariam nunca mais.

Já vivemos muitas "primeiras vezes" juntos (e olha que dizem que na adoção tardia se perde as primeiras vezes). São tantas lembranças que não caberia nesta folha. Apesar de serem tantas não são nada perto de tudo o que ainda queremos viver junto com você, perto da tantas outras "primeiras vezes" que estão por vir.

Pais e filhos só se tornam pais e filhos de fato quando os corações "se ligam". Alguns corações se ligam logo que a criança nasce, outros corações demoram alguns meses e outros demoram alguns anos para "se ligarem". Eu não sei te explicar porque demoramos 6 anos para nos encontrarmos, mas eu sei que sou muito feliz por ter achado meu filho e agradeço muito a Deus por isto!

Há mais de 2 anos você já é nosso pela ligação de nossos corações, mas hoje, por uma destas agradáveis coincidencias da vida, você também se tornou nosso pela legitimação da lei! O aniversário é seu mais sua certidão de nascimento com nosso nome foi um presente para todos nós!

Filho, continue crescendo em estatura, graça e sabedoria assim como Jesus. Eu te amo mais a cada dia e me orgulho de ser sua mãe. Nunca duvide do meu amor e nem do amor de Deus!

Seja sempre feliz!!! Te amo!!! Feliz Aniversário...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Adoção não é tratamento para infertilidade

Escrito e Postado por Renata Palombo
Fonte: www.sxc.hu

Tem muitas coisas que adoção não é, como por exemplo:

Adoção não é caridade!

Adoção não é ato de coragem!

Adoção não é loucura!

Adoção não é prêmio de consolação para quem não pode gestar!

De todos estes "não é", hoje eu queria falar sobre: Adoção não é tratamento para infertilidade!

Quem leu meu último post ("Você não pode ter filhos?") conheceu um pouquinho da minha jornada para a maternagem e viu que quando eu decidi ser mãe eu entrei na fila de adoção ao mesmo tempo em que parei de evitar gravidez. Diferente de muitas, eu não fui daquelas que esgotou todas as possibilidades de gravidez antes de escolher a adoção, mas mesmo assim as pessoas sempre relacionavam minha opção pela adoção a uma possível infertilidade.

Uma das coisas que eu ouvi muito, muito e muito quando meus filhos chegaram foi:

- Agora que você adotou, logo você estará grávida!

Peraí! Agora adoção virou tratamento pra infertilidade??? É bem verdade que muitas mulheres engravidam logo após a adoção, diz alguns que é porque a pessoa fica menos ansiosa e aí a gravidez acontece, mas em nenhum momento a adoção deveria ser motivada por isso, porque adoção também não é remédio para ansiedade.

Eu, sinceramente, sentia medo quando ouvia essa frase, porque a chegada do filho e a fase de adaptação foi tão dificil que a última coisa que eu precisava naquela época era engravidar.

Teve uma pessoa que chegou a me dizer que minha atitude de adotar era tão bonita que certamente Deus me abençoaria com um filho de verdade!!! Ai!!! Se aqueles filhos que estavam na minha vida não eram de verdade, eu não sabia mais nada sobre mim mesma e sobre a vida que eu estava levando.

Hoje, já se passaram alguns anos de quando chegaram meus filhos e eu não engravidei (UFA!), ou o "tratamento" não funcionou pra mim ou adoção realmente não é tratamento para infertilidade.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

"Você não pode ter filhos?"

Postado e Escrito por Renata Palombo
"Você não pode ter filhos?"

Essa é uma pergunta que ouço constantemente. Decidi usar o espaço do blog para responder essa pergunta em massa e publicamente, porque pode ser que quem acompanha meu blog também se faça esta pergunta.

-Sim! Posso ter filhos! Tanto que tenho dois!

O que as pessoas realmente gostariam de saber quando me fazem essa pergunta é se eu não posso engravidar.

Durante um bom tempo da minha vida eu não desejava ter filhos. Então aconteceram algumas coisas que despertaram em mim o desejo da maternagem, na mesma época eu me inscrevi no cadastro nacional de adoção e parei de evitar gravidez... nunca fiquei grávida, a adoção veio primeiro. Eu tinha escolhido ser mãe, pra mim não importava a forma como estes filhos chegariam até mim.

Sempre tive alguns problemas ginecológicos, mas nunca recebi diagnóstico de infertilidade, pelo contrário, todos os ginecologistas que eu me consultei a vida inteira sempre garantiram que eu podia engravidar. Logo que eu parei com os anticoncepcionais fiz exames e tudo funcionava muito bem no meu aparelho reprodutor, menos minha ovulação que era inconstante mas todos os ginecologistas diziam que isso não era impedimento para engravidar.

Também nunca quis fazer tratamentos. Para não dizer que nunca fiz nada, tomei indutor de ovulação por dois meses, nestes dois meses tive menstruações horríveis e decidi que para ser mãe eu nao precisava sofrer tanto. Se com o tratamento mais simples eu já tinha sofrido tanto, imaginei como seria os próximos passo com dosagens hormonais cada vez maiores e procedimentos cada vez mais invasivos. Pode ter sido covardia da minha parte? Pode ser que sim! Confesso que muita gente me chama de corajosa quando sabe que adotei filhos, mas na minha percepção precisa ter mais coragem pra gestar e parir do que para adotar. Mas acho que corajosa mesmo é quem decide ser mãe e assume de fato as descobertas e responsabilidades disso, porque quem já é mãe sabe que essa missão não fácil.

Diante disso tudo, eu e meu marido decidimos deixar as coisas acontecerem da forma como deveriam ser!!! E meus filhos acabaram "nascendo" pela adoção, depois de muito mais que nove meses de "gestação" (falo um pouco sobre meus "partos" em O melhor tipo de parto).

Eu ainda tenho o desejo no coração de ter mais um filho. Talvez daqui uns três ou quatro anos. Continuo na fila de adoção e continuo não evitando gravidez, eu não sei o que Deus vai me dar! Não sei como vai "nascer" meu terceiro filho e nem se vai vir, porque hoje tenho uma missão muito mais dificil do que ter este terceiro filho: convencer o marido sobre o assunto (rsrsrsrsrs)!

Então... respondendo de novo a pergunta que muitos me fazem:

SIM, POSSO TER FILHOS!! TANTO QUE JÁ TENHO DOIS!!! E SE TUDO DER CERTO, LOGO TEREI TRÊS.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Ingratidão

Postado e Escrito por Renata Palombo
Fonte: www.scx.hu

Hoje na hora do almoço, lá no meu trabalho, o assunto era a malcriação dos filhos. No meio da conversa uma senhora viúva, sem filhos e com aproximadamente 60 anos falou a seguinte frase:

- Quando eu retirei meu útero devido a uma doença, muitas pessoas me perguntavam porque eu não adotava uma criança. Eu não! Ainda bem que não adotei. Já pensou eu pegar filho dos outros pra criar e depois ainda ter que ouvir "você não manda em mim porque você não é minha mãe"? Deus me livre!

Na hora que ouvi isso, eu fiquei com muita vontade de responder algo. Acho que eu queria convencê-la de que a adoção poderia ter sido legal pra ela e que é bom sim ter filhos, mas acabei não falando nada porque achei que não valia a pena entrar nesse mérito da discussão. Ainda bem que eu não respondi nada mesmo, porque depois, pensando bem no assunto eu acabei dando razão pra ela.

Ela está certíssima!!! Se ela se sente incapaz de lidar com a ingratidão de um filho, fez muito bem em não tê-los. Sim! Porque filhos são naturalmente ingratos! E infelizmente tem um monte de gente por aí sem nenhum recurso interno para lidar com a ingratidão dos filhos que insiste em tê-los. E pior, não é pela adoção não! É pela geração de uma nova vida literalmente. Alguns fazem isso  por motivações egoístas e outros meramente para responder a uma demanda social que cobra que "todo mundo" deve ter filhos.

Os filhos por adoção falam mesmo frases como: "você não manda em mim porque você não é minha mãe" e alguns ainda falam: "era melhor ter ficado no abrigo", "eu preferia ter sido adotado por outra família", "minha mãe verdadeira era melhor do que você" (mães por adoção sabem do que eu estou falando). Estes filhos falam estas frases simplesmente porque estas são as armas que eles têm para nos atingir, nos afetar, demonstrar insatisfação...

Os filhos biológico não podem usar estas armas, então acabam usando outras tão eficazes quanto para afetar os pais. Filhos biológico dizem coisas como "eu não pedi pra nascer", "você não manda em mim porque você me colocou no mundo porque você quis", "prefiro minha avó do que você", "preferia ser fiho da mãe da fulana" (mães biológicas sabem do que estou falando).

O fato é: cada um usa a arma que tem para demonstrar ingratidão!!!

Do jeito que eu estou escrevendo até parece que pra mim é muito natural lidar com esta situação. Mas não é não! É óbvio que eu espero gratidão dos meus filhos e eu odeio ouvir estas frases. Mas o que eu quero concluir aqui não é se ouvir estas falas é bom ou ruim, quero concluir usando a conclusão da sábia senhora do inicio do texto que soube reconhecer suas limitações e não colocou ninguém no mundo para depositar suas frustrações:

"Não tenha filhos se você não tiver recursos e disponibilidade interna para aceitar a ingratidão deles"

Se eu tenho recursos internos para lidar com a ingratidão dos meus filhos? Sinceramente acho que não... mas eu tenho disponibilidade interna para conquistar isso e é o que eu tenho feito diariamente. Diariamente busco alternativas de me reconstruir e me (re) descobrir enquanto mãe, a fim de superar minhas limitações e ser cada dia melhor. As vezes eu consigo, as vezes não!

E você? Tem recursos internos para lidar com a ingratidão de um filho? 


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ser adotado é ruim

Escrito por Renata Palombo
Postado por Renata Palombo
Fonte: Google Imagens

Quem acompanha meu blog sabe que sou mãe por adoção, quem já leu "Sobre o Blog" sabe também que o blog não tem como objetivo falar sobre adoção, mas sim sobre as descobertas da maternagem independente se biológica ou não, no entanto é constante falar aqui sobre adoção, porque para mim as descobertas da maternagem permeiam, inevitavelmente, a experiência adotiva. Isso significa que em termos práticos, talvez este texto importe apenas para uma parcela muito pequena de mães, mas em termos teóricos poderia importar para muito mais gente, pois reflete o que muitos acreditam e ensinam para seus filhos sobre o que é “ter sido adotado”.
Meu filho mais novo nunca falou muito sobre o fato de ter sido adotado, as vezes eu até desconfiava que ele não tinha muita noção do que isso significava, e de fato acho que não tinha mesmo. Como viveu grande parte da sua vida em abrigo e viu vários “amiguinhos” sendo adotados, possivelmente na construção de mundo dele essa era a forma mais comum de tornar-se filho.

Acontece que conforme o tempo vai passando, suas referências de mundo e filiação tem modificado-se cada vez mais. Suas primeiras manifestações de incomodo diante da filiação adotiva começaram a surgir quando minha irmã e um "monte" de outras amigas ficaram grávidas e ele passou a se dar conta que a maneira mais comum de tornar-se filho é através do nascimento biológico. Tivemos momentos difíceis de conversas sobre o assunto que oras pareciam suprir sua curiosidade e necessidade e oras pareciam confundi-lo ainda mais... Estes, certamente, foram seus primeiros confrontos internos, confrontos com o que já tinha vivido e com o que estava vivendo agora, confrontos com ele mesmo, permeado apenas por suas crenças e seu auto julgamento.


O fato é que as coisas nunca param na relação de nós com nós mesmos! Quando começamos a nos dar conta de que temos algo diferente, isso logo sai do pessoal e caminha para o social e aí sim eu acho que a coisa se torna ainda mais difícil, pois temos que lidar com a crença e julgamento do outro do qual não temos o menor controle. Não que eu acredite piamente que temos controle sobre nossas próprias crenças e auto julgamentos, mas acho que a gente consegue colocar muitas delas em algumas “gavetinhas” e fingir que não as temos, o que nunca é possível fazer com o julgamento do outro.

Com meu filho não foi diferente. Pouco tempo depois de ter que se auto confrontar, começaram a surgir situações em que precisou se confrontar com a sociedade, dentre estas experiência gostaria de destacar uma que me angustiou muito.

Ele brincava em casa com um coleguinha do condomínio de aproximadamente 9 anos, quando o colega viu um porta-retrato com uma foto minha e do meu marido e perguntou para o meu filho onde ele estava quando aquela foto foi tirada. A grande maiora dos  filhos responderiam: “Eu ainda não tinha nascido quando eles tiraram esta fotos”, mas o meu, talvez por ainda crer que a forma mais comum de filiação é a adoção, respondeu de maneira muito natural e espontânea: “Eu não conhecia eles ainda quando tiraram esta foto”. Obviamente o colega quis compreender em que momento um filho vive sem conhecer os pais e o meu filho respondeu ainda de forma muito tranquila: “É porque eu sou adotado”.

O menino fez cara de espanto e disse de maneira hostil:
-Que mentira!
Meu filho ficou meio sem graça e recorreu a mim para ajudá-lo: "
-Mãe, não é verdade que eu sou adotado?
Nessa hora eu já estava bem incomodada com o diálogo, com a reação do amigo e também com o que meu filho pudesse estar sentindo, mesmo assim tentei ser o mais natural possível e disse:
- É sim!
Incrivelmente o menino deu dois passos para tras segurando nas mãos o brinquedo que ele tinha trazido para brincarem. "O que será que está havendo?" - Eu pensei. "Será que revelamos algo terrível?", "Será que ele não sabe o que falar?", "Será que está sem graça pela primeira reação que teve?", "Será que ele não sabe o que é adotado e acha que é alguma doença rara?" Resolvi perguntar:
- Você sabe o que é adotado?
- Sei. Ser adotado é ruim. Muito ruim.

Ai.

Eu adoraria que meu filho mantivesse sua naturalidade e tranquilidade para falar que foi adotado, sempre que necessário, mas percebi que ele ficou muito desconcertado, decepcionado talvez. Possivelmente pensará duas vezes ao revelar “tal segredo” quando novamente se confrontar com situação semelhante.

Eu não fiquei com raiva do menino. Compreendo que ele ache estranho alguém ter sido adotado, porque no mundo dele a forma mais comum de filiação, certamente, é a biológica, mas de onde será que veio a ideia de que ser adotado é ruim??? O que a sociedade acredita sobre a adoção??? O que os pais tem ensinado para seus filhos sobre a maternagem/paternagem por adoção??? Por que será que num mundo onde se fala tanto em diversidade e inclusão social ainda tem gente que acredita que existe uma sociedade homogênea onde todos são iguais???

Eu fiquei muito entristecida com a situação, não porque eu tenha problemas em falar sobre a adoção, não porque eu tenha medo de enfrentar o preconceito social com relação a isso, não porque eu tenha vergonha de não ter gerado biologicamente e queira esconder isso a “sete chaves”. Esta situação me incomodou única e exclusivamente porque como mãe, a coisa que eu mais queria no mundo era poupar meus filhos de situações que os ferissem e que os fizessem sentir-se diferentes, inferiores. Queria que ele nunca mais precisassem passar por isso (mas sei que ainda terão que passar um milhão de vezes). Me incomodou porque a coisa que eu mais queria no mundo era que meus filhos realmente acreditassem que ruim é não ser amado, ruim é nunca ser aceito.

A resposta do meu filho ao amigo foi: "Nada a ver. Ser adotado é legal!”

Eu gostei que ele se defendeu! Mas meu desejo é que um dia ele possa dizer que é legal ser filho e não que é legal ser adotado. A adoção é apenas a forma como o filho chega até nós. Eu nunca ouvi nenhuma criança dizer: “É legal nascer de parto normal”.

Depois que o amigo foi embora, eu (mobilizada pela minha prórpria angustia) retomei o assunto, e tivemos uma longa e proveitosa conversa sobre os diferentes tipos de famílias, os preconceitos de raças e opções sexuais e chegamos a conclusão que o que é mais  importante é SERMOS FELIZES COMO SOMOS E COM O QUE TEMOS.

Se você também é do tipo que acha que ser adotado é ruim, eu vou repetir que ruim é não ser amado, ruim é nunca ser aceito e vou acrescentar ainda que ruim é não ser feliz.

Que cada um de nós encontre felicidade em nossas vidas.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Bruxa Má é ela, eu não!

Escrito por Juliana Palombo
Postado por Renata Palombo
Fonte: Google Imagens

Fui agraciada por este lindo texto de Juliana Palombo. Me emocionou muito. Espero que gostem! 

"Quem vencerá o duelo acima? A decisão é sua! Mas vou ajudar na reflexão. Para isso decidi escrever esse post a base de dois papéis, o de mãe e o de psicóloga, assim posso falar do tema com emoção e com razão.

Durante os cinco anos da faculdade aprendi e descobri coisas valiosíssimas, dentre essas, que o sucesso da nossa profissão está em sermos empáticos. Mas o que é empatia?

A psicologia chama de “inteligencia emocional”. Para Hoffman (1981), é uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à própria situação. Ou seja, é se colocar no lugar do outro, mas não para dar a sua opinião na vida desse outro, e sim para ser exatamente o outro. Difícil né? Mais fácil é dar pitaco.

E porque estou falando de empatia sendo mãe psicologa, quer dizer, na ordem certa dos acontecimentos, o correto é como psicóloga mãe? É simples, hoje enquanto repetia a árdua tarefa de ensinar meu filho de cinco meses a dormir sozinho (tarefa mais pesada e cansativa que me arrepia só de pensar que existe essa hora na minha e na rotina dele) recebi uma notificação no facebook da minha irmã relatando com certa angústia que uma pessoa leu o blog e por conta de um dos posts voltou atrás em uma decisão.

Quem acompanha este blog, sabe que um dos temas é adoção. Essa pessoa, afirmava que estava tão desgastada com a relação mãe e filho que iria devolver o garoto, mas ao ler o post “A chegada do filho e a fase de adaptação” (Se você não leu, leia) repensou e viu que precisava insistir mais e mais, afinal filho é para sempre.

Aposto que se você chegou até aqui na leitura, é provável que tenha processado na sua mente e no seu coração não a decisão final de não devolvê-lo, e sim um julgamento sobre a atitude inicial de desejar devolver. E se isso aconteceu, seu pensamento foi mais ou menos assim:

- Nossa que horror, para que adota se vai cometer essa crueldade. Certeza que esse vai ser revoltado. Bruxa Má!!!

PÁRA TUDOOO e volte a ler sobre empatia e exercite esse conceito.

Pensar nessa mãe bem na hora que eu estava quase chorando porque já estava quase há duas horas tentando fazer o filho dormir, já com dor nas costas, sede e óbvio que muito sono, lembrei que também já desejei devolver meu filho, mas para barriga e atire a primeira pedra a mãe que nunca desejou isso, ou indo mais longe, desejou que seu filho voltasse pro esperma do papai e que de lá nunca tivesse saído?

A diferença entre a mãe do biológico e a mãe do adotivo é que cada uma deseja que seu filho volte pro lugar de origem. Mas a ação é igual para ambas, pois situações de desespero e angústia são idênticas.

Atire a primeira pedra aquela mãe que indiretamente não deu aos avós, tios, ao pai ou sei lá quem os cuidados do seu filho porque cansou?

Atire a primeira pedra a mãe que em um ato de desespero desejou do fundo do coração ter a sua vida de volta onde a preocupação era ela e não o filho?

Atire quantas pedras forem necessárias se você que se tornou mãe já não desejou voltar a ser só filha.

Eu já fui todas essas mães, e olha que só tenho cinco meses de estrada! Negritar a palavra cinco é para reforçar que precisei de cinco meses de prática (meu tempo de mamãe) para entender cinco anos de teoria (época da faculdade).

Não estou defendendo nenhuma dessas mães, nem acusado, apenas levando a reflexão e a quebra do preconceito.

Depois que me tornei mãe, estou aprendendo a ser empática, pelo menos com esse público. O exercício começou com a minha mãe, afinal quem vocês acham que culpo por ter traumas, recalques, problemas, erros? A minha mãe, óbvio. Mas que na primeira semana que passei noites em claro e vi meu humor oscilando em minutos já comecei a perdoar aquela que errou sim, mas tentando acertar.

A segunda que estou aprendendo a ser empática é com a minha irmã, que tornou-se mãe dois anos antes de mim. Minha irmã, autora desse blog, mãe por adoção, e em nada diferente de mim, mãe por parto cesárea. Passamos pelas mesmas neuras, temos os mesmos surtos, os mesmos desejos e diariamente estou aprendendo que ser mãe é a escolha de ter filhos e não a forma como eles nos chegam.

Enfim, ainda bem que existe preconceito, julgamento e pitacos. Se não por eles, como as pessoas que querem ser melhores cresceriam? Afinal, refletir, amadurecer e empatizar é que formam seres humanos melhores.

Se você, mãe, que leu esse post sente culpa por ter se enquadrado em algum exemplo, perdoe-se, pois mães em algum momento de BRUXA MÁ desejam sim não serem mães, considerando que antes de tornar-se mãe você era e continua sendo SER HUMANO.

É uma dádiva a maternagem, mas é mentira que ela nos santifica.

Mães não devem ter vergonha de pedir ajuda. Temos que fazer isto diariamente.

Uma colega disse que para educar filhos, a melhor cartilha é a do coração, eu concordo, porém finalizo com uma pergunta:

- Como vai o seu coraçao? Se ele será a cartilha deve estar em paz, deve estar saudável, deve estar em boas condições, porque esse mesmo coração que as vezes quer fugir e engolir os filhos é o mesmo que dará a eles amor, carinho e confiança.

Educar não se faz apenas com palavras, mas se completa com exemplos de dia a dia.

Nesse duelo, pelo menos eu, quero aprender todos os dias a ser empática.

Torço o mesmo por você!!!"

domingo, 18 de março de 2012

Amar de Verdade

Postado e Escrito por Renata Palombo

Uma vez eu ouvi de uma pessoa muito importante para mim que eu não sabia o que era amar um filho de verdade porque eles não tinham nascido de mim. Confesso que esta fala me doeu muito, me desestabilizou! Não sei explicar exatamente porque, se foi por ter colocado em xeque minha maternagem, se foi por ter me feito duvidar do meu próprio amor pelos meus filhos, se foi por me fazer pensar que muitas outras pessoas também julgam assim...
 
Fiquei por dias ruminando isso e me perguntando o que era "amor verdadeiro". Alguém aqui sabe definir "amor verdadeiro"? Como eu descobriria se eu amo verdadeiramente meus filhos se não tenho a experiência da gravidez biológica para comparar?
 
Se quando esta pessoa falou em amar de verdade, usou a palavra "verdade" como antônimo de "mentira", eu posso dizer com 100% de certeza que o que eu sinto é de verdade sim! Existe! Está aqui! Dentro de mim!
 
Talvez quando a pessoa falou "de verdade" ela estivesse se referindo a quantidade, querendo dizer que ama-se mais um filho biológico do que um adotado, o que mais uma vez eu não vou poder comparar porque não tenho a experiência do biológico, assim como ela também não deveria tentar comparar porque não tem a experiência do adotado. Posso apenas dizer o que eu acho. Acho que se uma pessoa ama mais o filho biológico do que o adotado é porque nunca adotou de fato, pois uma vez adotado é filho. Filho é filho! Mas não é esse o assunto deste post, voltando a falar sobre a comparação da quantidade de amor, fico pensando em como fazer isso. Alguém tem uma máquina para medir quantidade de amor? Será que essa pessoa tem? Será que ela tem como saber se eu amo meus filhos mais do que ela ama os dela e vice versa? Eu não sei se eu amo mais meus filhos do que você que me lê, eu sei que os amo muito, em alguns momentos chega a doer.
 
Talvez esta pessoas estivesse se referindo a intensidade quando disse "de verdade". Pode ser que seja isso. Sim! Porque é muito intenso o que se vive durante uma gestação e um parto. A emoção de ter um ser pequenino e indefeso em seus braços que acabou de sair de dentro de você deve ser algo indescritível. Eu não tenho dúvida de que esta é uma experiência ímpar, profunda e intensa e eu não a vivi na carne (literalmente) para poder comparar a intensidade. Eu não sei a intensidade do amor de um filho que saiu de mim, mas eu sei a intesidade do amor de um filho que entrou em mim.
 
Até hoje eu não sei o que esta pessoa quis dizer com "amar de verdade", eu sei que o amor que sinto não é de mentira, é muito e é intenso!
 
Eu poderia responder-lhe que ela é quem não sabe o que é amor de verdade, porque amar alguém que você concebeu, gestou, pariu e viu crescer desde o primeiro minuto de vida é muito fácil. Quero ver esta pessoa amar alguém que cresceu em outro ventre, que tem outra carga genética, que chegou com uma história de vida anterior a você, que te desafia, te desconstrói, que você não viu crescer desde o primeiro minuto de vida... Mas eu não responderia isto, por dois motivos:
 
1º) Porque conceber, gestar e parir não é garantia de amor para nenhum filho (como vemos muito por aí), assim como a adoção também não o é (como também vemos por aí).
 
2º) Porque se eu respondesse isso eu estaria cometendo o mesmo erro que ela de julgar, quantificar e comparar os amores...
 
Amor não é mágia, é construção!
 
Amor não se mede, se sente...
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