quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ser adotado é ruim

Escrito por Renata Palombo
Postado por Renata Palombo
Fonte: Google Imagens

Quem acompanha meu blog sabe que sou mãe por adoção, quem já leu "Sobre o Blog" sabe também que o blog não tem como objetivo falar sobre adoção, mas sim sobre as descobertas da maternagem independente se biológica ou não, no entanto é constante falar aqui sobre adoção, porque para mim as descobertas da maternagem permeiam, inevitavelmente, a experiência adotiva. Isso significa que em termos práticos, talvez este texto importe apenas para uma parcela muito pequena de mães, mas em termos teóricos poderia importar para muito mais gente, pois reflete o que muitos acreditam e ensinam para seus filhos sobre o que é “ter sido adotado”.
Meu filho mais novo nunca falou muito sobre o fato de ter sido adotado, as vezes eu até desconfiava que ele não tinha muita noção do que isso significava, e de fato acho que não tinha mesmo. Como viveu grande parte da sua vida em abrigo e viu vários “amiguinhos” sendo adotados, possivelmente na construção de mundo dele essa era a forma mais comum de tornar-se filho.

Acontece que conforme o tempo vai passando, suas referências de mundo e filiação tem modificado-se cada vez mais. Suas primeiras manifestações de incomodo diante da filiação adotiva começaram a surgir quando minha irmã e um "monte" de outras amigas ficaram grávidas e ele passou a se dar conta que a maneira mais comum de tornar-se filho é através do nascimento biológico. Tivemos momentos difíceis de conversas sobre o assunto que oras pareciam suprir sua curiosidade e necessidade e oras pareciam confundi-lo ainda mais... Estes, certamente, foram seus primeiros confrontos internos, confrontos com o que já tinha vivido e com o que estava vivendo agora, confrontos com ele mesmo, permeado apenas por suas crenças e seu auto julgamento.


O fato é que as coisas nunca param na relação de nós com nós mesmos! Quando começamos a nos dar conta de que temos algo diferente, isso logo sai do pessoal e caminha para o social e aí sim eu acho que a coisa se torna ainda mais difícil, pois temos que lidar com a crença e julgamento do outro do qual não temos o menor controle. Não que eu acredite piamente que temos controle sobre nossas próprias crenças e auto julgamentos, mas acho que a gente consegue colocar muitas delas em algumas “gavetinhas” e fingir que não as temos, o que nunca é possível fazer com o julgamento do outro.

Com meu filho não foi diferente. Pouco tempo depois de ter que se auto confrontar, começaram a surgir situações em que precisou se confrontar com a sociedade, dentre estas experiência gostaria de destacar uma que me angustiou muito.

Ele brincava em casa com um coleguinha do condomínio de aproximadamente 9 anos, quando o colega viu um porta-retrato com uma foto minha e do meu marido e perguntou para o meu filho onde ele estava quando aquela foto foi tirada. A grande maiora dos  filhos responderiam: “Eu ainda não tinha nascido quando eles tiraram esta fotos”, mas o meu, talvez por ainda crer que a forma mais comum de filiação é a adoção, respondeu de maneira muito natural e espontânea: “Eu não conhecia eles ainda quando tiraram esta foto”. Obviamente o colega quis compreender em que momento um filho vive sem conhecer os pais e o meu filho respondeu ainda de forma muito tranquila: “É porque eu sou adotado”.

O menino fez cara de espanto e disse de maneira hostil:
-Que mentira!
Meu filho ficou meio sem graça e recorreu a mim para ajudá-lo: "
-Mãe, não é verdade que eu sou adotado?
Nessa hora eu já estava bem incomodada com o diálogo, com a reação do amigo e também com o que meu filho pudesse estar sentindo, mesmo assim tentei ser o mais natural possível e disse:
- É sim!
Incrivelmente o menino deu dois passos para tras segurando nas mãos o brinquedo que ele tinha trazido para brincarem. "O que será que está havendo?" - Eu pensei. "Será que revelamos algo terrível?", "Será que ele não sabe o que falar?", "Será que está sem graça pela primeira reação que teve?", "Será que ele não sabe o que é adotado e acha que é alguma doença rara?" Resolvi perguntar:
- Você sabe o que é adotado?
- Sei. Ser adotado é ruim. Muito ruim.

Ai.

Eu adoraria que meu filho mantivesse sua naturalidade e tranquilidade para falar que foi adotado, sempre que necessário, mas percebi que ele ficou muito desconcertado, decepcionado talvez. Possivelmente pensará duas vezes ao revelar “tal segredo” quando novamente se confrontar com situação semelhante.

Eu não fiquei com raiva do menino. Compreendo que ele ache estranho alguém ter sido adotado, porque no mundo dele a forma mais comum de filiação, certamente, é a biológica, mas de onde será que veio a ideia de que ser adotado é ruim??? O que a sociedade acredita sobre a adoção??? O que os pais tem ensinado para seus filhos sobre a maternagem/paternagem por adoção??? Por que será que num mundo onde se fala tanto em diversidade e inclusão social ainda tem gente que acredita que existe uma sociedade homogênea onde todos são iguais???

Eu fiquei muito entristecida com a situação, não porque eu tenha problemas em falar sobre a adoção, não porque eu tenha medo de enfrentar o preconceito social com relação a isso, não porque eu tenha vergonha de não ter gerado biologicamente e queira esconder isso a “sete chaves”. Esta situação me incomodou única e exclusivamente porque como mãe, a coisa que eu mais queria no mundo era poupar meus filhos de situações que os ferissem e que os fizessem sentir-se diferentes, inferiores. Queria que ele nunca mais precisassem passar por isso (mas sei que ainda terão que passar um milhão de vezes). Me incomodou porque a coisa que eu mais queria no mundo era que meus filhos realmente acreditassem que ruim é não ser amado, ruim é nunca ser aceito.

A resposta do meu filho ao amigo foi: "Nada a ver. Ser adotado é legal!”

Eu gostei que ele se defendeu! Mas meu desejo é que um dia ele possa dizer que é legal ser filho e não que é legal ser adotado. A adoção é apenas a forma como o filho chega até nós. Eu nunca ouvi nenhuma criança dizer: “É legal nascer de parto normal”.

Depois que o amigo foi embora, eu (mobilizada pela minha prórpria angustia) retomei o assunto, e tivemos uma longa e proveitosa conversa sobre os diferentes tipos de famílias, os preconceitos de raças e opções sexuais e chegamos a conclusão que o que é mais  importante é SERMOS FELIZES COMO SOMOS E COM O QUE TEMOS.

Se você também é do tipo que acha que ser adotado é ruim, eu vou repetir que ruim é não ser amado, ruim é nunca ser aceito e vou acrescentar ainda que ruim é não ser feliz.

Que cada um de nós encontre felicidade em nossas vidas.

17 comentários:

Dedé. disse...

Nossa, Rê, que lindo texto!
E que situação, hein.

Mas é isso mesmo. Passaremos e nossos filhos passarão por várias destas, ao longo da vida. E seremos felizes, verdadeiros. Seremos família.

E que o nosso coração de mãe fica triste, fica mesmo. São só filhos, apenas chegaram "por outra porta".

Ainda que os seus tem semelhança física. Com os meus a coisa é impactante.

Beijos, amo te ler!!

Cristiane faga disse...

RE, eu passei coisa semelhante com situaçao diversa. Meus filhos nao sao filhos do mesmo pai. O Guilherme é fruto de um casamento para la de fracassado, antes mesmo dele nascer. E se eu te disser o que escutei do pai quando fiquei gravida, voce ficaria escandalizada. A Luana foi um "acidente". De verdade. Eu namorava e tomava injeçao. E dois dias apos a injeçao fui hospitalizada devido a uma grande infecçao no rim. Muitos e muitos antibioticos anularam o efeito da mesma. Sai do hospital um dia antes do meu aniversario e meu namorado me levou para comemorar. Fiquei gravida dela literalmente no dia do meu aniversario, ja que nao fizemos mais nada depois porque eu resolvi terminar com ele antes mesmo de saber que tinha engravidado. O meu maior medo era que eles passassem o que passaram tantas vezes. Quando as pessoas sabiam que eles eram filhos de pais diferentes, olhavam torto, quando nao vinham com comentarios maldosos. Afinal, a "vagabunda" era a mae que teve filhos de pais diferentes. No começo foi dificil até que percebi que era eu que passava o preconceito para eles. Eles sempre agiram com a maior naturalidade sobre o assunto. E o Gui uma vez que recebeu um comentario maldoso até falou: - pelo menos a minha mae tentou uma outra pessoa, nao é como a sua que vive frustrada, vivendo na sombra do marido e nao sabe correr atras dos sonhos dela. No final, eles encaram tudo isso muito melhor que nòs. Entao, serenidade. é sò o que posso dizer.

Adriana disse...

Oi Renata, me identifiquei muito com a sua história . Sou Mae por adoção e opção de duas meninas e já passamos por situações parecidas, mas sempre tiramos proveitos das conversas após ! Sempre digo que contra a verdade nao há argumento. Minha filha mais nova que adotamos com 4 anos e a que mais questiona e que diz sempre que gostaria de ter saído da minha barriga, já a mais velha que foi adotada com 11 anos sempre diz com muito orgulho que foi adotada! Acho que o maior fator para as pessoas acharem ruim e o medo do que nao conhecem. Então , continue esse trabalho lindo que euzinha aqui vou divulgar! Beijos

Rosangela Lucineia Scheuer disse...

;)Olá!Seu blog está muito bom.Gostei e estarei por aqui.Conte comigo.Bjos,Rosangela |olah|
Passe lá no blog...tem sorteio! |up|

Renata Palombo disse...

Oi, Rosangela Vali... Obrigada pelo comentário... passei lá no seu blog e adorei... Volte sempre!!

Renata Palombo disse...

Adriana, espero realmente q meu trabalho continue contribuindo para que as pessoas entendam que diferenças não são desigualdades... Fiquei feliz de saber q temos tanto em comum!!! Obrigada pelo comentario...

Renata Palombo disse...

Cris, obrigada pelo seu relato. Realmente eles encaram bem melhor q a gente. Rsrsrsrsrsr. Mais uma das descobertas da maternagem, tanto aprendemos com estes pequenos, não é??? Muito boa a resposta do seu filho.

Renata Palombo disse...

Dedé, adorei o "chegaram por outra porta"... Acho q é exatamente isto... acho q é somente isto...

Estou errada? disse...

Gostei de uma citação acima de que o julgamento vem pelo nao vivido. As pessoas infelizmente nao sabem simplesmente aceitar aquilo que elas nao experenciaram e geralmente julgam mal, porque acham q bom é so o que ela escolheu e viveu.... É dose. Mas adoro tambem seus textos q alem de desabafos sao sempre lições. Nao vou te prometer q conseguirá mudar o mundo, mas felicite-se por ter conseguido se mudar e com suas vivencias tornar-se uma pessoa cada vez melhor. Com certeza vc é uma a menos no mundo que julga a torto e a direita pq sabe na pele o impacto disso. E como bem disse, como a base da sua familia é o amor pode apostar q serão bem resolvidos, como qualquer filho é qndo permeada a relaçao por tal sentimento. E adorei, adorei mesmo relembrar que filhos biologicos nao saem comemorando que nasceram de parto normal,cesarea, ou forceps rs! Vc é demais... Beijos e parabens por lidar bem com aquilo q nao te faz tao bem

Claudia Martins disse...

Renata, adoro seu blog, e este post fez meu coração ficar apertado, nunca pensei nisso, e como nunca pensei nisso????
Num passado não muito longe, se eu ouvisse isso de uma criança ficaria triste, com pena, e pena é um sentimento horrível, mas ficaria compadecida com ele, não conseguiria enxergar o quanto ele é feliz, o quanto ele é amado, e que existe formas variadas de se formar uma família, mas o tempo, a própria vida, Deus, me mostrou um outro lado, e hoje se eu ouvisse seu filho falar, eu abriria um sorriso enorme, de satisfação, de felicidade, de alegria, porque saberia que ele é muito amado...
Tenho esperança na humanidade, na sua evolução...
Bjsss

Juliana MS disse...

Re, adorei o texto ao mesmo tempo que fiquei angustiada, junto com vc, pela situação que o Di passou com o amigo, mas que ao meu ver se saiu muito bem sim.
Esse tipo de resposta, de criança pra criança, acredito que surte um bom efeito e planta uma sementinha de uma nova forma de pensar não é ?
Que Deus continue abençoando vcs para que continuem com a tranquilidade e amor que têm para desenvolver esse tema com os filhos e os ajudarem a enfrentar tantas e tantas situações como essa que ainda aparecerão, mas que os farão sempre lembrar da segurança que vocês conseguem transmitir.
Amo vcs !! =)

Syl - Minha Casinha Feliz disse...

Que texto lindo, Renata. Imagino sua angústia na hora, eu fiquei angustiada só de ler....

Olha, que bom que seu filho é bem resolvido em relação ao assunto adoção. Mas isso é mérito seu que trata o assunto com naturalidade e não só fala como principalmente demonstra pra ele que o mais importante são os laço de amor. A forma como essas duas pessoas se uniram numa relação de mãe e filho é irrelevante!

Beijos
Syl
http://minhacasinhafeliz.blogspot.com.br/

Unknown disse...

Amiga como sempre perfeito,sem palavras!

Unknown disse...

Perfeito amiga,sem palavras!

Shi Soares disse...

Bom texto!
Me lembrei do dia que estava passeando na rua com meu filho no colo, uma vizinha veio perguntar de quem era o bebê. Eu expliquei que tinha adotado ha poucos dias e que estava muito feliz.
Ela me encheu de perguntas porque não consegui engravidar, se não tinha tentado tratamento, enfim fez um interrogatório! Mas o pior ainda estava por vir.
Ela olhou bem pra ele e perguntou: você pegou ele no orfanato? Não pode escolher né? É por isso que é ruim! Eles não deixam gente escolher!
Respirei fundo. Senti pena dela. Que preconceito. Até crianças são julgadas por adultos. Não é preconceito de cor! Preconceito se é bonitinha ou feia!
Respondi: Eu não fui ao pet shop comprar um cachorrinho, não fui comprar um produto. Não fiquei olhando na prateleira pra ver qual produto mais me agradava!
Eu simplesmente fui buscar o meu filho!
Ele deu um sorriso lindo!

graça disse...

meninas,uma vez vi na net uma historia se duas crianças conversando e uma perguntava para o outro como era ser adotado e ele disse minha mae me beija me abraça fala que me ama me protege e assim ser adotado ai a outra criança disse vou pedir para minha mae me adotar tambem.e isso meninas.

Anônimo disse...

oi,meninas uma vez ouvi uma historia linda duas crianças conversando a biologica perguntou para adotiva como era ser adotado ea criança respondeu e assim minha mae me abraça me beija me protege diz que me ama todos os dias ea outra criança respondeu vou pedir para minha mae me adotar tambem.

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