segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Mãe é Mãe!!!

Postado por: Renata Palombo
Escrito por: Cláudia Gimenes
                                        

Claudia é uma grande amiga virtual. Uma das responsáveis por um grupo de adoção tardia do qual faço parte, foi uma das peças fundamentais para a construção da minha maternagem. Ela escreveu este texto que fala sobre adoção com muita maestria. Para não dizerem que estou exagerando está sempre em segundo/terceiro lugar dos textos mais lidos do meu blog. É um texto que todo o mundo deveria ler, independente de ter ou não filhos adotados. O texto foi publicado inicialmente em www.coisademae.com.

"Fui convidada pela Glauciana para escrever artigos para a coluna “Mãe é tudo Igual” e fiquei pensando sobre que tema falar. Como a coluna tem um nome bem significativo, vou reforçar que mãe é tudo igual e que “mãe é mãe”!

Sabe, eu não gerei meus filhos. A vida não me deu esta oportunidade, até porque eu não fui atrás de fazer com que ela me desse! Não quis fazer tratamentos nem exames doloridos. Achava que para ser mãe eu não precisaria sofrer mais do que pela espera por eles.

Eu sabia que tinha filhos para mim em algum lugar e que eram 4, mas eu não sentia que precisasse sentir dor, me submeter a doses massissas de hormônios, piorar ainda mais o que já é ruim em mim em questão hormonal, piorar ainda mais meu problema de obesidade, gastar um dinheiro que eu não tinha para ter um filho. Eu sabia que eles viriam e a adoção era o caminho!!!

E agora vou falar algumas coisas à respeito da maternidade escolhida através da adoção!

Quando decidimos adotar um filho e comunicamos isso a parentes e amigos, todo mundo faz festa, boa parte nos cumprimenta dizendo: “ah, admiro vocês… que gesto nobre”.

E aí, por mais que você explique que não é um gesto nobre, que é a espera por um filho, ninguém compreende. As pessoas passam a te olhar com um olhar que vai da admiração à pena e você vê nos olhares reticentes o pensamento de “coitada, não pode ter filhos”.

E passamos a sentir nossa gravidez de uma forma solitária, sem os paparicos de uma grávida biológica, porque ou somos criticadas ou somos exaltadas, colocadas à altura de santas por estarmos, apenas, desejando ser mães!!!

Isso aconteceu comigo! Não tive paparicos, não tive chá de bebê organizado pelas cunhadas – que organizavam chás para todas as crianças prestes a chegar na família -, mas tudo bem. o filho que eu esperava era meu, não dos outros!

Quando o filho chega, todo mundo vem, olha com cara de pena para o seu filho e diz: “coitadinho, né?!? Como a mãe teve coragem de largar um bebê tão lindo?!?”. Mas, espera aí. Quem é a MÃE? Você está diante de uma mãe que acaba de ganhar um filho e diz uma frase destas? Meu coração se partia a cada comentário “sem maldade”, advindo da total falta de senso, caridade e amor, referidos à minha filha. Eu era A MÃE! Ela teve uma progenitora e uma mãe em duas pessoas diferentes. A mãe sou eu!

E aí seu filho vai crescendo e você vai ouvindo: “mas você não tem medo que ela vá procurar a mãe verdadeira?”. E mais uma vez eu digo: “Quem é a MÃE VERDADEIRA? Aquela que gerou e não pôde ou não quis ficar ou você que está convivendo no dia a dia com a criança?”

Então posso afirmar que “mãe verdadeira” não existe, porque se aceitarmos o conceito de “mãe verdaderia” teremos que admitir que existe uma “mãe falsa”. Tá, eu sempre fui considerada a mãe falsa pela sociedade, mas pela linguagem popular, sou a mãe verdadeira!!! rss

Muita gente fala: “mãe é quem cria”, mas estas mesmas bocas te perguntam se você não tem medo que seu filho procure a progenitora, referindo-se a ela como “a mãe verdadeira”. Hipocrisia! Sendo assim, vamos fazer deste desabafo um momento de esclarecimento. O que existe são: mães biológicas e mães adotivas. Nenhuma delas é falsa.

E quando você decide ter o segundo filho, ouve: “você vai adotar outra vez? Porque não tenta ter um filho seu?!”. Para tudo!!! Porque eu não tento ter um filho meu?! A outra filha que eu tenho é de quem, afinal de contas?! Eu sou a mãe, ela é minha filha! Qual a dúvida?

E aí as bocas “sem maldade” completam seus questionamentos com um “ah, claro que ela é sua filha, afinal de contas você é quem cria, mas você já fez uma caridade, agora precisa tentar ter um filho seu mesmo, de verdade, do seu sangue”.

E quando você escuta coisas assim, cai sua ficha! Você é mãe, tem um filho, está esperando outro filho e não é considerada mãe, nem seus filhos considerados filhos! Somos pais e filhos de segunda linha em uma sociedade cheia de preconceitos enrustidos.

Quem disse que quando eu adotei pensei em fazer caridade?! Adotei para ser MÃE, oras. Caridade a gente faz doando dinheiro para asilos, abrigos, abrigos de cães, fazendo trabalho voluntário em hospitais e comunidades carentes. Quem adota, adota para ter um filho, tal e qual quem engravida. Quem adota não pensa em fazer caridade, em salvar uma vida do mundo do crime, em tirar um coitadinho da rua, da miséria ou seja lá de onde for. Quem adota o faz para ser MÃE.

E de mais a mais, quem disse que sangue diz alguma coisa na relação mãe x filhos, pai x filhos? Quem crê que sim, basta relembrar o caso da mocinha Suzane R., filha biológica, advinda de uma gravidez planejada, bem criada e tal…

Apesar de pessoas assim, você segue sua vida e quando decide ter seu terceiro filho, pouca gente é comunicada, menos gente ainda participa. Você já cansou do verniz que as pessoas usam no preconceito e na discriminação e, como sua gestação é sem barriga e sem paparicos, você decide que será sem encheção de saco também.

O terceiro filho pouca gente visita, quase não ganha presentes. Você, definitivamente, é louca perante a sociedade, principalmente se seu filho chegar doente, afinal de contas se você pode escolher, porque aceitou uma criança doente?

O quarto filho só pessoas muuuito próximas e não necessariamente parentes, ficam sabendo. Você só conta para pessoas que compartilham o desejo de adotar, mesmo, e nem faz ideia como será quando este filho chegar. Provavelmente será festejado só em casa, mesmo, entre papai, mamãe, irmãos e alguns pouquíssimos amigos de longe, que nunca te viram pessoalmente.

Se eu tenho mágoas disso tudo?! Não, não tenho!!! Aprendi a conviver e descobri que o preconceito existe, sim, que está mais presente em nossa sociedade do que as pessoas imaginam e que se você não for forte, você é engolido por ele, sucumbe à depressão.

Por isso não me dou o direito de ter preconceito contra nada, também não me dou o direito de julgar as decisões alheias. Escolhas são direito inalienáveis do ser. Você pode até não concordar com algumas escolhas das pessoas que ama, mas tem obrigação de respeitar.

Por isso, aproveito sempre que posso para falar sobre o assunto, porque acredito que somente com informações é que se acaba com o preconceito! Pior do que isso tudo que eu passei é ver meus filhos, agora entrando na adolescência, serem bombardeados com perguntas movidas pela falta de conhecimento do que seja uma relação de filiação verdadeira.

Hoje já não perguntam mais para mim se não tenho medo que eles queiram procurar a mãe verdadeira. Hoje os amigos deles perguntam se eles não têm curiosidade de conhecer suas mães verdadeiras. E o preconceito vai sendo passado de geração a geração.

Eles são bem orientados em casa e são multiplicadores dos conceitos corretos, explicam com paciência para os amigos sobre a inexistência de uma “mãe verdadeira” e colocam os conceitos em seus lugares, mas na minha modesta opinião, se não existisse de verdade preconceito, não haveriam mais crianças e adolescentes fazendo esse tipo de pergunta.

E só para constar: não, eu não tenho medo!!! Se um dia eles quiserem procurar suas mães biológicas eu os ajudarei. Amor é algo que se conquista com a convivência do dia a dia e eu não tenho porque temer um encontro deles com uma desconhecida – que lhes deu à vida -, mas uma desconhecida.

Isso tudo para dizer que mãe é tudo igual, que mãe é mãe, não importa de que forma ela se torna mãe. Se você teve a paciência de ler tudo isso, vou me atrever a deixar algumas dicas se, por acaso, você for pego de surpresa com a notícia de que alguém próximo vai adotar:

- Não olhe com compaixão, nem pena. Adotar não é uma sentença, é uma escolha!

- Não exalte o ato de adotar como algo sublime, não coloque a pessoa em questão nos pés de uma santa, porque isso magoa e ofende.

- Trate seu parente ou amigo que vai adotar tal e qual trataria se ele estivesse esperando um filho biológico. Nós, mães adotivas, também gostamos de ganhar mimos para nossos filhos.

- Quando visitar a família na chegada da criança, jamais olhe com pena nem diga “coitadinha, né?!”. Nenhuma mãe gosta de ouvir que seu filho é coitadinho! Se, por um lado, ele foi abandonado, por outro foi muito esperado e amado antes mesmo de nascer, então não existe nenhum coitadinho".

Claudia Gimenes, 41 anos, casada, mãe (24 horas por opção) de 3 filhos, e à espera de mais uma. Minhas atribuições diárias são: mãetorista, mãesicóloga, mãefessora, mãerientadora, mãeselheira, mãeducadora, mãezinheira, mãe, mãe, mãe… Também é mãe do blog Adoção Amor Verdadeiro.

15 comentários:

Cláudia Gimenes disse...

Renata amada,

Obrigada por postar o texto!

Já linkei vc no meu blog. Fica mais fácil acompanhar!

bjs,

Cláudia

Anônimo disse...

Clau, adorei seu relato, me ví retratada em muitos apontamentos que foram descritos.
Quem sabe um dia as mães sejam vistas apenas como mães e pronto.
Patricia, mamãe da Vitória

Renata Palombo disse...

Clau, eu é q te agradeço por ter autorizado a publicação deste texto para contribuir com meu blog. Apareça sempre...

Claudiene Finotti disse...

Oi Renata!

Já corri lá no blog da Cláudia e estou seguindo e lendo tudo.

Beijos.

Clau

Renata Palombo disse...

Olha aí Clau!! Ganhou mais uma "fã"...

Mari Ferreira disse...

Muito interessante esse texto. Não tinha ainda refletido nessas questões da forma como ela coloca. Muito bom, parabéns!

Aline Vivas de Freitas disse...

Muito bons:texto e blog.
Nosso primeiro encontro não foi dos melhores no grupo do face mas espero possamos recomeçar.Parabéns pelo blog!!!

Aline Vivas de Freitas disse...

Parabéns pelo blog.

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto. Perfeita a sua colocação.
Eu depois de 30 anos como filha única ganhei 2 irmãos adotivos, na época com 2 e 3 anos, portadores de anemia falciforme e negros, ou seja, todas as características para fazer com que as pessoas olhassem a minha mãe, com uma filha adulta, na idade de ser avó, como uma louca varrida.
Esses dois são a nossa alegria e o amor que nasce é algo que só quem passa por essa experiência pode explicar.
Quantas vezes me aborreci com os olhares e comentários maldosos vindo inclusive da própria família. O pior de tudo é se referir aos meus irmãos como os "neguinhos" eu tenho vontade de matar quem fala dessa maneira.

Para minhas duas "pimentas" meu amor eterno e a mana sempre estará aqui para os defender.

Cristiane faga disse...

Afff.... chorar foi pouco quando li este post lindo e verdadeiro!!!! Sempre quis e continuo querendo uma casa cheia de filhos. Uns 12, mas nao quero o trabalho de parir todos nao. Sei que a minha hora vai chegar e meus outros filhos ainda virao. Muitas vezes me perguntei porque ainda nao o fiz. Algumas por dificuldade da situaçao, afinal até bem pouco tempo atras eu era uma mae divorciada com dois filhos biologicos, portanto a probabilidade do terceiro se juntar a familia era remota. Depois eu trabalhava muito e se nao conseguia dar a atençao necessaria para os dois que ja estavam por ali quem dira ao novo integrante da familia. Agora estou me reestruturando como familia novamente - ja que dois novos membros: papai e mais um filho - chegaram meio sem aviso e sem programaçao tambem. E acabamos nos mudando para um pais onde tudo é novo. Mas eu sei e sinto que minha outra filha ainda està por vir.

Bia disse...

Adorei o texto e adorei o blog. Estou acompanhando...

Renata Palombo disse...

Cris, se sua proxima filha tiver q nascer pela adoçao assim será!! Lembre-se q nós fazemos os planos, mas Deus é quem defineo caminho.

Bia, obrigada por acompanhar nosso blog!

Dedé. disse...

Lindo texto! Verdadeiro! Na Páscoa as crianças estavam aqui. há quem tenha vindo de curiosidade. Há quem tenha dado alfinetadas ou perdido a chance de ficar calado. Graças a Deus, de alguma forma, eu já tava preparada pra essas situações. Coisas do tipo "caridade", ou "que coragem você tem" vão fazer parte dos meus dias. Mas, como mãe é mãe, toda mãe aguenta qualquer coisa pelos filhos.

Vera Cristina Canto disse...

Oii! Claudia, assino em baixo de td esclarecimento que vc fez sobre mãe adotiva.
Eu sou adotada fiquei sabendo com idade de 35 anos, de uma maneira tão mesquinha,tive td que um filha tem que ter de seus pais mesmo numa vida simples.Mâe é Mãe e Pai è Pai.....ficou la fundo uma curiosidade de saber quem me gerou...pela maneira contada por parte de filhos,estou pesquisando mas é dificil,pois,tds q amavam, sempre participaram da minha vida desde de minha adoção faleceram,Hoje feliz tenho uma família linda,sou vovó,tenho 52 anos tento passar td q aprendir com meus pais a minha família...bjs

Unknown disse...

Adorei, estou na fila de adoção, com certeza serei uma mãe muito feliz, porque o amor que sinto por uma criança que nem conheço já é grande demais pra ficar aqui guardada no meu peito, obrigada pelo texto, e parabéns pela grande mãe que você é!

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