Escrito por Fabio Martins
Postado por Renata Palombo
Fonte: Arquivo Pessoal
Um amigo de longa data... Um amigo de quando ainda éramos somente filhos... Sou grata a Deus pelo privilégio de tê-lo visto se tornar pai, o texto dele realmente me emocionou... Espero que também gostem e se emocionem. Boa leitura!!!
"Em primeiro
lugar, quero agradecer a oportunidade de compartilhar com os leitores do
Descobrindo a Maternagem, as minhas primeiras experiências como pai da Maria,
que agora em agosto completara 1 ano e 7 meses de vida, mas antes de falar um
pouco desse mundo de descobertas que tenho desbravado, quero compartilhar com
vocês meu estado de espírito sobre filhos até o ano de 2011.
Machado de Assis,
um dos maiores autores brasileiros, encerra seu romance de 1881, Memórias
Póstumas de Brás Cubas, com a frase 'Não
tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria' dita pelo narrador-personagem já no
apagar das luzes da história, apagar literal, já que o personagem do título é
um defunto-autor, enfim, até pouco tempo atrás, eu concordava em gênero, número
e grau com Brás Cubas, afinal, do ponto de vista puramente materialista (não
confundir com consumismo) para onde quer que se olhe, é possível encontrar
miséria, seja material ou moral, se em 1881 já havia essa percepção desiludida
com a condição humana, que dizer de 2011, onde a distância entre o progresso
material e o (re)progresso moral/social,
se afastam, aparentemente, em progressão geométrica, como, então, de
maneira consciente, e, através de um processo de tomada de decisão racional
assentir com a possibilidade de ter filhos?
Até o ano de 2011 era capaz de
elencar diversas razões para não ter filhos, todas embasadas em motivos que
definiria como suficientemente humanistas e racionais, ainda assim, já estava
sendo convencido pela minha esposa sobre essa possibilidade, devo admitir que resistia a ser convencido,
diante dos motivos brevemente expostos acima.
Então chegou o mês de julho, mais
precisamente o dia 04, quando cheguei do trabalho a noite a Gabriela (minha
esposa) me esperava em casa, meu aniversário seria no dia seguinte, então ela
me disse que me daria o meu presente naquele mesma hora (coisa que em 12 anos
juntos, namoro + noivado + casamento, ela nunca tinha feito, presente de
aniversário só no dia), ganhei uma caixinha fechada com um laço e um cartão,
dentro havia um par de sapatinhos verde-claro, o que soube imediatamente o que
significavam! Naquele momento, um frio subiu pela minha espinha, mas um frio na
espinha, curiosamente, muito bom, uma emoção tremenda, uma palpitação, uma
grande excitação diante da notícia que mudou completamente, naquele mesmo
instante, como num abrir e fechar de olhos, como uma obra do Espirito Santo, a
minha visão sobre os filhos e suas implicações.
Ainda meio atordoado com a
notícia, processando aquele turbilhão de sentimentos se manifestando ao mesmo
tempo, fui ao primeiro ultrassom. Entramos na sala, celulares desligados, DVD
para gravar o exame entregue, barriga exposta, gel gelado no devido lugar,
monitor ligado, logo a médica começou o procedimento e rapidamente encontrou o
embrião, e eu tentando encontrar onde estaria o tal do embrião, porque só
conseguia enxergar a estática – olhos destreinados – então a médica fez uma das
perguntas mais emocionantes e importantes da minha vida inteira, disse ela:
'vocês querem ouvir o coração?', pensei comigo, coração de quem? Já que não
estava entendendo nada, mas não falei nada com medo do ridículo - concordamos, ela
apertou um botão na máquina, o som encheu a sala, um coraçãozinho palpitando,
num instante entendi de qual coração ela estava falando, meus olhos marejaram, as
mãos geladas, meu coração querendo sair pela boca, ouvindo o milagre divino da
vida se materializando na minha frente, Deus em Sua infinita bondade e
misericórdia estava compartilhando conosco um ato de criação, prerrogativa
exclusiva dEle, não tinha ouvido nada parecido até então, nem vou ouvir
novamente, o mais belo som do mundo, mesmerizado com a experiência voltamos
para casa com longuíssimos meses de gestação, planejamento e preparação para
chegada da Maria pela frente, quanta alegria, quanta ansiedade, quanta
expectativa!
Em janeiro
de 2012 a Maria finalmente chegou! Enrrugadinha, emburradinha, carequinha, magrelinha,
banguelinha e loirinha!? A coisinha mais linda e perfeita do mundo inteiro, e
lá fui eu atrás dela pelo hospital, para não desgrudar os olhos daquele dom
maravilhoso de Deus em forma de bebezinha.
De acordo com o senso comum é dos
pais a responsabilidade de educar as crianças, mas eu é que tenho aprendido
muito com a Maria e gostaria de compartilhar algumas dessas lições com vocês:
Com a Maria aprendi o valor e a
importância das pequenas conquistas para alcançar um objetivo maior, antes de
começar a andar ela pacientemente aprendeu a ficar sentada apoiada, depois se
sentar sozinha, então aprendeu a se levantar se apoiando, então a dar alguns
passos se apoiando nos móveis, então arriscou alguns passinhos sozinha entre
espaços pequenos, e finalmente agora está correndo à sua maneira de um lado
para o outro, ah sim, também está apreendendo a pular.
Com a Maria aprendi que toda e
qualquer conquista deve ser comemorada, seja um mês de vida, seja a habilidade
de segurar um objeto pela primeira vez, seja o primeiro sorrisinho, enfim, nada
é pequeno ou insignificante demais para não ser celebrado com palminhas e um
sorriso, como ela faz quando consegue algo novo, ou nem tão novo mas que tenha
sido divertido para ela e obviamente para nós também, assim deve ser a vida.
Com a Maria aprendi que (ao menos
por enquanto) dinheiro é só um pedaço de papel colorido. Ela gosta de mexer na
minha carteira, tirando de seu lugar os cartões, recibos de compras, e notas de
dinheiro, não da nenhuma atenção ao dinheiro, tenta guardar tudo de volta à sua
maneira sem se importar com o “vil metal”.
Com a Maria aprendi que estar
alimentado, limpo, com saúde e a companhia da família é mais do que suficiente
para viver, como diz o ditado 'as melhores coisas da vida não são coisas'.
Com a Maria finalmente começo a compreender as decisões difíceis que os
meus pais tomaram em prol da minha educação por mais arbitrarias que essas
decisões me pareceram quando eu era uma criança, especialmente no momento da
'correção' em que diziam 'ser para o meu bem', ou que 'doía mais neles' e não é
que era a mais pura verdade! Educar dói também no pai, talvez, até mais.
Na bíblia, Deus frequentemente é retratado como um
Pai preocupado com o bem-estar temporal de seus filhos, um texto da bíblia em particular tem ganhado
um novo significado para mim:
'Portanto eu lhes digo: não se
preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer ou beber; nem com seus
próprios corpos, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante do que a
comida, e o corpo mais importante do que a roupa?
Observem
as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o
Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?
Portanto,
não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer? ’ ou ‘que vamos beber? ’ ou ‘que
vamos vestir? Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai
celestial sabe que vocês precisam delas' Mateus 6:25; 36; 31
Como a Maria depende de seu pai
terrestre despreocupadamente para atender as todas as suas necessidades, eu
também tenho um Pai celestial que esta interessado em prover todas as minhas
necessidades, para que eu dependa dEle despreocupadamente! Simples assim!
Mas
Deus também se mostra preocupado com o nosso bem-estar eterno, e o texto
bíblico que mostra essa realidade, e que ganhou um significado radicalmente
novo é: 'Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que
todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eternal' João 3:16. O que
para mim é impensável, dar a vida da minha filha, Deus, o nosso Pai, levou às
últimas consequencias, movido por um amor que é insondável, imenso e ilimitado,
deu a vida de Seu único filho para que eu, e você que esta lendo, pudessemos
ser reconcialidos com Ele, como poderia eu desprezar infinito amor?
Só posso
agradecer a Deus por sua graça maravilhosa e também por ter me enviado a Maria
para me ajudar a compreender ainda que em parte o grandioso amor de Deus por
todos nós.
Grande Abraço, Fabio"