Escrito por Sheronh Keily Pereira
Postado por Renata Palombo
Fonte: Arquivo Pessoal
Há algumas semana publicamos um texto da Sheronh: "A Maternagem por vários Ângulos" onde ela nos contou um pouco sobre sua história. Hoje ela nos presenteia novamente com mais um texto. Boa leitura!
"Uma gravidez indesejada, um namoro sem futuro, um homem
desprezível e uma mulher que simplesmente queria cuidar o bebê que estava à
espera. Um homem que não aceitou a gravidez e fez ameaças. Uma mulher que
desesperada, não tinha apoio da família.
Assumir um filho sem querer continuar um relacionamento,
hoje é mais comum do que há 20 anos, por exemplo. Infelizmente, muitos querem
um relacionamento baseado em superficialismos, querem relacionamentos sem
futuros e não tomam os devidos cuidados. E nesse descuido, pessoas sofrem. É
comum hoje encontrarmos mães solteiras que se doam por completo, que procuram
certa estabilidade financeira para proporcionar conforto aos filhos. Mas há
alguns anos, uma mãe solteira, sem apoio da família, sequer conseguia um
emprego. E partiam então, para a adoção.
Há aproximadamente 20 anos uma mulher que já tinha um
filho, um menino lindo, mas que também não teve o prazer de poder criá-lo,
educá-lo, estava novamente grávida. Seu primeiro filho, um lindo menino passou
a receber amor e carinho de um casal de tios. Agora mais uma gravidez, de um
homem que não queria assumir a mulher, tampouco a gravidez.
Em 1992 nascia então, uma menina. Sem apoio de alguém da
família, a mãe mudou-se de estado em busca de trabalho e estabilizou-se em uma
instituição. Trabalhava como auxiliar administrativa e ficou com sua filha por
alguns meses naquele local. Viajava com a responsável pela instituição e era obrigada
a deixar sua filha com as pessoas daquele local. E assim foi, por
aproximadamente 8 meses. Até que a instituição, que era irregular,
desestabilizou-se e mais uma vez, uma mãe com uma criança em seus braços,
encontrava-se sem rumo certo.
Até o processo final de desconstrução da instituição,
tiveram um tempo para decidirem o que fazer. A mãe e os colegas daquele local
freqüentavam a igreja local, e lá conheciam muitas pessoas.
Nesse período, um casal que estava aproximadamente 10
anos casado, e com tentativas de ter filhos frustradas, e também com uma
decepção, após terem conseguido a guarda de uma criança e meses depois a mãe da
mesma voltou para buscá-la, continuava almejando uma criança, que pudesse
alegrar seus dias, que preenchesse o vazio existente naquela casa. Foi então,
que já conhecedores da situação da mãe e da filha que estavam sem ter aonde ir,
foram procurados por um casal de amigos para adotarem aquela menina. Dúvidas,
preocupações surgiram, mas a esperança era muito maior. Após algumas conversas,
o casal decide adotar a menina, então com 10 meses de vida. O processo de
adoção encerrou-se quando a menina já tinha três anos de vida.
Quando o processo foi encerrado a mãe biológica, já havia
conhecido outro rapaz, estavam casados e nos primeiros cinco anos de casamento,
já tinham dois lindos filhos. Aproximadamente neste mesmo período foi embora
para outro estado. Sabe-se que foi um período de muitas dores, de sofrimento,
de culpa, mas de superação.
Os pais que realizaram o sonho de ter um bebê
adaptavam-se a nova vida, oferecendo sempre muito amor, muita segurança,
conforto e dias felizes para a mais nova integrante da família, que criança com
saúde e rodeada de carinho.
Os anos foram passando, e a distância não mais permitiu
qualquer contato entre as famílias. Os pais adotivos decidiram contar sobre a
adoção a filha, e aos poucos ela foi assimilando, entendendo e a curiosidade aumentando.
Nunca sentiu raiva, nunca guardou rancores da mãe biológica, e ao contrário
disso, passou a querer ter contato, ou ao menos conhecê-la de alguma forma.
Amava sua mãe biológica, sim! Amava-a por entender que o fato de ter entregado-a
a adoção foi o melhor que pôde acontecer. Sim, dúvidas existiam, principalmente
após ouvir algumas declarações como: “você foi abandonada”, “sua mãe não quis
você”, e outras. Mas o que prevalecia, era o amor, este enraizado dentro do
coração daquela menina, já pré-adolescente, acredito que por Deus. A partir dos 14/15 anos, começou então uma
procura maior, agora tinha a disposição a internet, o tão antigo Orkut. Fazia a
procura acompanhada da mãe de coração, que sempre a incentivou. Até que em um
belo dia, ao abrir o Orkut, na caixa de recados, estava lá um recadinho que
encheu os olhos de lágrimas, que causaram também um medo! Mas ao mesmo tempo,
uma felicidade indescritível. Um dos sonhos se realizou e até hoje as duas
mantém contato.
Bom, a menina que tanto falei nesse texto sou eu. Há
cinco anos eu e a mãe biológica temos contato, e este é quase que diário,
graças as redes sociais. Enfrentei sim um período difícil de assimilação e
entendimento do que era. Foram várias as vezes que sentia um aperto no coração
por não poder estar perto daquela que me gerou, mas sentia um conforto logo.
Lido com a adoção da melhor forma possível, sei o quanto
fui e sou amada por meus pais. Acredito piamente que tudo que acontece conosco
tem um propósito Divino. De tudo tira-se um aprendizado, uma experiência. E é
assim que encaro todo esse processo. Grata por tudo. Grata pelos amigos que nos
momentos difíceis estiveram comigo, grata pela vida e por todos meus
familiares!
Através das redes sociais, tive o privilégio de conhecer uma pessoa especial demais! Que esteve comigo em TODOS os momentos dos últimos meses. É amiga para todos os momentos, e tornou-se minha mãe virtual, falo de Ana Cristina! Amo você!
Obrigada pelo maravilhoso convite, amiga Renata! Sinto-me
feliz e privilegiada por fazer parte de seu blog. Um super abraço a todas que
me leram até agora!
Fiquem com Deus!!"
Sheronh, sua experiência prova que não importa o que vivemos, mas sim o significado que damos àquilo... Muitas pessoas ao viverem histórias semelhantes se revoltam... outras ao ouvirem histórias semelhantes sentem dó da criança ou raiva da genitora... você (sabiamente) escolheu ser feliz e acreditar que nada na vida é por acaso. Todos nós temos altos e baixos em nossas vidas, temos "buracos" em nossa construção da maternagem e filiação... quão bom seria se todos nós escolhêssemos ser felizes e gratos a Deus pelo que temos e não revoltados pelo que nos falta. Obrigada por compartilhar!
* Sheronh Keily Pereira, tem 20 anos, mãe de um anjinho (Nícolas) que aos três meses de vida, deixou essa terra para habitar nas alturas junto com nosso Pai. Divorciada, foi casada durante 3 anos e a separação se deu no período que o filho estava hospitalizado. Atualmente trabalha na prefeitura de seu município, onde está envolvida nas causas sociais do município. É apaixonada por leitura e pela vida.Cristã, vive com fé, é ela que a fortalece sempre.